fonte: O Globo
“O Gabriel é nosso bebê. Só queremos cuidar dele”. O desabafo é de Bruno Matos, pai de Gabriel Campos de Matos, de 14 anos, que foi internado na semana passada na Coordenação de Emergência Regional (CER) do Centro do Rio. O jovem, que sofre de neuropatia e necessita de cuidados especiais, ficou seis dias sem se alimentar por falta do equipamento para nutrição enteral (por meio de tubo ou sonda) na unidade. Segundo o laudo médico, o estado de saúde dele é grave e há risco iminente de morte.
O paciente, com quadro de distúrbio neurológico, deu entrada no CER com pneumonia, sendo colocado em coma induzido. Mas, desesperados com a impossibilidade de o filho receber alimentação, devido à precariedade de recursos do centro, os pais entraram, na quinta-feira da semana passada, com um recurso junto ao plantão do Tribunal de Justiça. No domingo, saíram de lá com uma decisão favorável: uma tutela de urgência que ordenava a transferência de Gabriel para um hospital com UTI pediátrica. Em caso da falta de vagas, a ordem judicial diz que o paciente deve ser transferido e internado em um hospital da rede privada.
— Minha mulher (Eliana Campos) e eu andávamos todos os dias da Gamboa, onde moramos, até o Tribunal de Justiça. Foram sete quilômetros caminhando durante várias noites —conta Bruno.
Em 2018, o número de processos na área da saúde quase duplicou no TJ: foram 52 mil, segundo levantamento do tribunal, 25 mil a mais do que no ano anterior.
Na tarde de ontem, a Secretaria municipal de Saúde cumpriu a ordem judicial e transferiu Gabriel para o Hospital da Lagoa.
REMÉDIO É PRINCIPAL CAUSA
Para Manoel Santos, de 54 anos, respirar tem sido cada dia mais difícil. Tanto que, recentemente, em pouco tempo, já não conseguia sair da cama. O morador de Realengo sofre de hipertensão arterial pulmonar, um mal que depende de um remédio específico, cuja caixa, que dura apenas um mês, custa R$ 2.383. Sem condições de pagar pelo medicamento, o jeito foi recorrer à Justiça.
— Recorremos de todos os lados. Só não tenho dinheiro para comprar um remédio que custa mais de R$ 2 mil, nem para pagar advogado. Já entreguei todos os documentos, mas a decisão demora a sair — diz o paciente, que tomou o remédio pela última vez em agosto do ano passado, quando obteve uma doação.
O pedido de Manoel é para que o Ministério da Saúde compre o medicamento, que não é entregue desde março do ano passado pela Rio Farmes, rede de farmácias da Secretaria estadual de Saúde. Na Justiça, o trâmite é lento, porque são muitos os casos semelhantes. Mais da metade (51,9%) dos processos relativos a questões de saúde, do ano passado, foi de pedido de medicamentos.
O desembargador Werson Rego explicou que a maior parte são pedidos de remédios de alto custo, como o de Manoel, ou de substâncias que ainda não foram liberadas pela Anvisa, como as derivadas da maconha.